sometimes i sit and think. sometimes i just sit.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Viva o Povo Brasileiro

Bom, eu sempre tive uma relação estranha com o Brasil. Passei muito tempo sem ligar para nosso país - as músicas que gosto nunca foram cantadas em português, portanto não havia porque ter um elo com oas canções nacionais; os filmes só passaram a pegar um impulso comercial e publicitário de uns anos pra cá, então não fizeram parte da minha infância; os livros que tenho vontade de ler nunca são os nacionais. Pra quê, se existe Dostoiévski?

Esse pensamento arrogante e fechado foi dando vazão à uma liberdade que aos poucos fui sentindo para poder olhar o Brasil com outros olhos. Da indiferença total, passei a não gostar. E fiquei assim por bastante tempo, e agora, tenho revisto muitos conceitos..

É engraçado como as coisas, naturalmente e sem que a gente programe algo, acabam coincidindo e várias coisas ocorrem sobre um mesmo tema. Por exemplo, lá pra março desse ano, estudei Unificação Italiana em História; e paralelo a isso, lembrei de um livro que quero muito ler chamado Queda e Declínio do Império Romano, assisti vários filmes italianos maravilhosos e nem sou tão chegado assim à cultura deles. Mas foi uma época que aprendi bastante - didaticamente e artisticamente - sobre país europeu.

E agora tem sido assim com o Brasil. Estou aprendendo muita coisa sobre a história brasileira (muita matéria) e escutado música brasileira mais do que escutava antes.
Felizmente, tudo ocorreu de uma maneira muito peculiar; comecei a ler o livro que até agora, é o melhor que já li, chamado Viva o Povo Brasileiro (João Ubaldo Ribeiro). Apesar do título, logo quando nos aprofundamos na leitura percebemos que não é uma ode - e sim uma sarcástica saudação. A riqueza da linguagem empregada pelo genial Ubaldo é tão vasta, heterogênea e mística quando a nossa cultura, nossos hábitos. E é um belo livro de história também - já que finalmente, podemos ter um retrato da cultura brasileira desde o século XVIII até o XIX, podendo finalmente entender nossas origens.

Apreciar e depreciar a pátria ao mesmo tempo; eis a bela contradição que eu tenho, e que afinal, é o Brasil por inteiro. Quer país mais contraditório?
Apreciar pela cultura, depreciar pelo povo, pela política. Principalmente o povo.

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Me espanta a maneira como o Rio despreza sua própria história. E me indigna ver como meus colegas de turma sequer foram no Museu de Belas Artes, no Centro, refletindo a falta de interesse e cultura para com o passado.

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E aos poucos vou descobrindo coisas geniais em nossa história. É uma pena como tantos, da Irmandade, não conhecem Mário de Andrade, Tarsila, a Atropofagia, Vidas Secas, João Cabral de Melo Neto, Drummond, Bossa-Nova, e os próprios ícones, como Machado de Assis. E um dos maiores intelectuais de nossa História, Glauber Rocha, com seus filmes chatérrimos? Pelo menos foi alguém digno de importância, assim como Nelson Rodrigues, mesmo ambos sendo extremamente aborrecidos.

Esse descaso com nossa História é o que me decepciona. Essa falta de bom-senso para com nossas riquezas ambientais, a inconsciência, tudo isso, me evergonha, muitas vezes, de ser parte dessa massa tão grande do Brasil (Muitas vezes o que me incentiva a futuramente dar aula é a vontade de conscientizar pessoas sobre esse crime que cometemos a nós mesmos).

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A Fernanda Torres, que é cronista da Veja Rio semana sim, semana não (alterna com o Manoel Carlos) falou nessa última edição sobre como o pessoal do Rio detesta o antigo, sempre procura substituir o ultrapassado sem dar valor ao histórico. Deu exemplo da arquitetura, de como ela mesma teve de se mudar para sua casa estilo década de 50 ser demolida e dar lugar a um prédio. Ela começa o texto dizendo como adora a Barra (e o que me parece doideira, dada a impraticidade que é morar lá) e se esclarece no final, falando que os grandes empreendedores agora largaram a Zona Sul e aventuraram-se para os cantos de lá. Se adorar a Barra for igual a preservar o pouco de história que ainda temos por aqui e pelo Centro, també a-do-ro a Barra.
Quando terminei de ler, pensei no Palácio Monroe, no Centro. É um absurdo mesmo..

Bom, Brasil e História foram palavras-chave nessa postagem. É uma pena que as duas não caminhem juntas, e a primeira negue a segunda. História do Brasil é linda (curioso é que nenhum dos meus amigos gostam, detestam, diga-se de passagem), mas não é valorizada. Um dia, quem sabe.

Um comentário:

Faber disse...

Vou te emprestar um livro.