sometimes i sit and think. sometimes i just sit.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A flor e a Náusea

Prêso à minha classe e algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da tôrre;
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e
espera.

O tempo pobre, o poeta pobre,
fundem-se no mesmop impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos,
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem
ênfase.

Vomitar êsse tédio sôbre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes de terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de êrro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com êle me salvo,
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua côr não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde,
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no ar, galinhas em
pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo
e o ódio.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Tranqüilidade.

Hoje eu descobri que as coisas podem ser tranqüilas.

"Medo da morte?
Acordarei de outra maneira,
Talvez corpo, talvez continuidade, talvez renovado,
Mas acordarei.
Se até átomos não dormem, por que hei-de ser eu só a dormir?"

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A profundidade do mundo

Oh, que ruim ser mal interpretado! E sempre acabo gerando isso. Explicando-me melhor a respeito da última postagem, o que quis dizer com o vazio das pessoas é que..

O que eu quero dizer, afinal?
Afinal, existe alguém puramente desinteressante por dentro? Por trás de máscaras, convenções e comodismos? Cada vez mais é difícil ser você mesmo em nosso mundo. Eu acho lindo quando uma pessoa doa-se à outra, e vice-versa; o fato de absorvermos características alheias é a prova de que reconhecemos as máximas qualidade naqueles que gostamos. Seja adquirindo uma mania, um tique, uma frase, uma expressão.. trazemos para nós o que é fonte de respeito. Eis um dos motivos pelos quais nós, seres-humanos, somos uma só unidade.
De onde vem o vazio? É difícil afirmar, apenas sentimos. Mesmo uma patricinha fútil tem sua própria sabedoria. Um exemplo disso é Paris Hilton, que uma vez afirmou que nunca seria quem é no seu íntimo, uma vez que as pessoas nunca entenderiam nem respeitariam; e isso comprova o que disse ali em cima. Para ela, sua conseqüência é passar-se de idiota pretensiosa.
O fato de termos inúmeros preconceitos - e isso foi O tema de ontem, em debates na psicóloga e com meus amigos - é o que nos impede de reconhecermos nossas opiniões primordiais e estabelecer um ponto de partida para construir demais conceitos. Eles são importantes, sim - o problema é que acabamos dando um sentido muito amplo para a palavra.
Em falar em palavras, o que no fundo no fundo, elas representam? Eu e meus amigos já zombamos demais de pessoas próximas, que desconheciam o sentido de palavras tolíssimas. E ontem aprendi que não tenho moral para isso - o que importa é que os outros saibam qual o significado que elas expressam. Não sou um dicionário ambulante. Nem os outros. Não posso esperar isso deles. Muito menos de mim.
Isso está relacionado ao meu antigo conceito de vazio - uma pessoa é vazia por não ser culta? letrada? apta a discursar exímiamente em qualquer assunto? ou é vazia apenas porque não construímos um elo de ligação com elas?
Para mim, esse era o conceito de vazio. Permaneceu no meu imaginário aquela imagem-clichê de estudantes populares - pegadores, estúpidos, bonitos e preconceituosos. Eu, justamente eu, que prego TUDO contra qualquer tipo de preconceito, acabei cedendo à ele.
Uma pessoa não é rasa apenas porque não tenho papos profundos com ela. Ou porque não lê os livros que leio, as músicas que escuto, os filmes que assisto.
Pensava justamente o contrário até ontem, quando revi essa opinião. É uma espécie de narcisismo, achar que só são profundos aqueles que pensam como eu.
E afinal, por que se preocupar com quem é vazio e quem é profundo? Sempre haverá opiniões discordantes sobre quem é ou não é, já que depende de pontos de vista.

O erro foi meu, ao achar que todos têm de seguir um padrão de intelectualidade e dedicação.
É hora de mudança.

domingo, 19 de outubro de 2008

O vazio das pessoas

Eu lamento tanto o fato de ter passado momentos na minha vida procurando nas pessoas erradas aquilo que sempre quis que elas fossem, quando na verdade a felicidade se encontra nos amigos ao meu redor.. Os verdadeiros amigos, que estupidamente demorei a aceitá-los, e enxergar que é com eles que sou eu, no meu íntimo. Hoje eu entendo que quando tentei me desvençilhar deles, apenas consegui alcançar o vazio dos populares, dos apenas bonitos; e me assusto ao constatar o quão carente são, e como a impressão idealizada deles apenas me fez correr atrás de coisas sem sentido.
Mas aprendi que quando falamos nas pessoas em geral, é apenas isso mesmo que queremos dizer - pessoas em geral. Isoladas, são todos tão interessantes..

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A paixão dentro de mim

Estou aqui, sentado, num bela segunda-feira na qual preciso me preparar para a prova de matemática, mas antes disso preciso viver coisas mais importantes e urgentes; a satisfação de poder sentar em paz no meu quarto, confortável e recheado das músicas de sempre, mas que transmitem melhor do que qualquer coisa aquilo que sinto.
De uns tempos para cá, minha vida tem mudado radicalmente. Consegui me sair um pouco melhor nas provas, e no entanto não estudei tanto para conseguir isso. Isso é um alívio. Uma amiga minha fica extremamente estressada quando chega a reta final do ano, momento em que temos de nos esforçar um pouquinho mais - ou simplesmente relevar - para acabar logo o ano e passarmos.
Mas não. Comigo tem sido diferente; venho combatendo uma dualidade interna, o desejo de acabar logo o 2º ano que pra mim, foi extremamente complicado, e prolongar esses últimos meses que têm sido atordoantes - que ironia!
Não tive muita emoção no início do ano. Cheguei num ponto esquisito, no qual só conseguia viver para mim mesmo e um grupo restrito de pessoas com quem me relaciono bem, e só. Mais do que a bolha natural em que vivo, isolei-me de tudo e todos.
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O que me surpreende é como às vezes as mudanças ocorrem tão abruptamente que só podemos interpretá-las como um processo natural, um rumo inevitável que decorre daquilo que nos esforçamos para conseguir. É uma das dádivas da vida.
Poucas pessoas têm aquele sentimento desesperador de vazio que assola aqueles que, no fundo, não têm do que reclamar. Escola cara, boa casa, comida de sobra, dinheiro para se divertir à vontade. É uma merda, em determinados momentos.
O que leva os finlandeses ao suicídio e aquele condenado à trabalhar e sem perspectiva de progressos que mora no meio da favela da Maré a continuar vivendo? São coisas que passam pela minha cabeça..
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O que me deixa emocionado - de verdade - é quando concluo que os maiores enigmas que temos de solucionar são aqueles que se encontram dentro de nós mesmos. Passamos anos e anos investindo no conhecimento do Universo, do Mundo, do Planeta, quando o nosso verdadeiro cosmo é inexplorado. Temos mania de grandeza, não conseguimos aceitar que às vezes as coisas são extremamente complexas, e em outras, tão simples..
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Faz umas semanas, fiquei insanamente feliz por ver que algumas pessoas à minha volta mudaram. Uma, em especial, que no meu passado foi de incomensurável importância. E o mais estranho - além de termos recuperado um pouco do contato perdido - foi notar que, no fundo, a mudança não foi somente dele - mas minha. Sou à favor de uma campanha mundial em que todos deixaremos de lado a Disney, a Paris, a New York, a Milão - e faremos um turismo interno, uma aventura dentro de nossos próprios sentimentos, sentidos, emoções. Descobrir o porquê afinal, de sermos tão únicos, tão inseparáveis e próximos - ao mesmo tempo tão distantes, isolados, carentes. Principalmente carentes. O que é o amor, senão uma necessidade de autoafirmação? Somos todos um só. Somos todos uma unidade, separadas pelo próprio amor, por essa coisa linda que a todo custo tentamos recuperar.
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Acho que as pessoas não sabem o que é amor. Para os adolescentes é encontrar alguém próximo, que desperta um pouco mais de interesse e diga palavras doces. Mas cadê a profundidade?
Acho que as pessoas pensam demais no sexo. Tanto no sexo-gênero quanto no sexo-ato. São julgadas por ele, por quem elas fazem e por que elas fazem, e com quem elas fazem. Acredito que já por um processo histórico e cultural, minha geração hipervaloriza um ato que apenas proporciona segundos de orgasmo e só. Vivemos em torno de uma coisa animalesca, natural e contraditoriamente taxada como tabu.
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Mas afinal, quem sou eu para dizer isso? Na minha opinião, o amor só pode ser considerado amor puro quando as pessoas desvinculam o sexo dele. E o desejo inconsciente de reprodução. Ou você reconhece que somos todos animais e gostamos disso (Sienna Miller já dizia), portanto assume que é movido por impulsos e desejo de reprodução e desvincula o amor, ou se enxerga como a evolução, que discerne o amor do sexo. Mas afinal, quem sou eu para dizer isso?
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Sinto-me novo, como se tivesse nascido de novo. Por estar recuperando elementos simbólicos de uma infância que já passou (amizades, por exemplo), sinto-me mais jovem do que nunca. Por estar lendo e interpretando coisas que nunca antes pude compreender, por estar agindo mais independente do que nunca e mais perto ainda de um final que representa o término de uma longa etapa, sinto-me mais homem do que nunca.
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Sinto-me grato. Mas não à Deus, estou numa fase de negação. Por que os homens não aceitam que vão morrer e acabou? Por que tem de haver anjos e Deus depois, um Purgatório (ainda que adore essa idéia), um Inferno, ou uma troca de corpos? Morreu, 'cabou. Se conforma, cara. Tem nenhum Céu depois não. Nenhum de nós merece. Olha à sua volta. I see poverty. De espírito, de moral, de corpo, de dinheiro.
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Por que as pessoas não olham mais para o interior das outras? O corpo murcha, fica com pelancas, pêlos onde não devia, rugas em lugares inimagináveis. Mas dentro? O interior é imortal!
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Voltei a me apaixonar pelas pessoas. Algumas, em especial. Um sorriso lindo dá vontade de chorar, os olhos nos prendem. O futuro nos espera, o passado nos prende, mas por quê? Vivamos o presente, e o que virá depois. Deveríamos todos nascer outra vez, tenho certeza que nasceríamos tão melhor..

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A raiva interna

Quando a decepção passa para o estado de raiva profunda e latente, é o momento que as coisas começam a solidifcar-se de maneira mais clara e objetiva na cabeça de uma pessoa. A orgia intelectual que Mário de Andrade se referia passou ao estágio de orgia da burrice, que é o que nós brasileiros temos vivido. Depois não entendem o porquê de meu pessimismo.
Além do mundo estar quebrando lá fora - e os babacas acharem que em momento algum nossa Pátria será atingida - vejo a autodestruição para qual o povo caminha em direção, a negligência, a indeferença, a inversão de valores. O povo brasileiro me dá nos nervos, sua burrice e ignorância me estressam, sua hipocrisia me enoja. Mas pelo menos, se não fosse por um resquício de esperança, não desejaria fazer algo para mudar isso.