Estou aqui, sentado, num bela segunda-feira na qual preciso me preparar para a prova de matemática, mas antes disso preciso viver coisas mais importantes e urgentes; a satisfação de poder sentar em paz no meu quarto, confortável e recheado das músicas de sempre, mas que transmitem melhor do que qualquer coisa aquilo que sinto.
De uns tempos para cá, minha vida tem mudado radicalmente. Consegui me sair um pouco melhor nas provas, e no entanto não estudei tanto para conseguir isso. Isso é um alívio. Uma amiga minha fica extremamente estressada quando chega a reta final do ano, momento em que temos de nos esforçar um pouquinho mais - ou simplesmente relevar - para acabar logo o ano e passarmos.
Mas não. Comigo tem sido diferente; venho combatendo uma dualidade interna, o desejo de acabar logo o 2º ano que pra mim, foi extremamente complicado, e prolongar esses últimos meses que têm sido atordoantes - que ironia!
Não tive muita emoção no início do ano. Cheguei num ponto esquisito, no qual só conseguia viver para mim mesmo e um grupo restrito de pessoas com quem me relaciono bem, e só. Mais do que a bolha natural em que vivo, isolei-me de tudo e todos.
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O que me surpreende é como às vezes as mudanças ocorrem tão abruptamente que só podemos interpretá-las como um processo natural, um rumo inevitável que decorre daquilo que nos esforçamos para conseguir. É uma das dádivas da vida.
Poucas pessoas têm aquele sentimento desesperador de vazio que assola aqueles que, no fundo, não têm do que reclamar. Escola cara, boa casa, comida de sobra, dinheiro para se divertir à vontade. É uma merda, em determinados momentos.
O que leva os finlandeses ao suicídio e aquele condenado à trabalhar e sem perspectiva de progressos que mora no meio da favela da Maré a continuar vivendo? São coisas que passam pela minha cabeça..
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O que me deixa emocionado - de verdade - é quando concluo que os maiores enigmas que temos de solucionar são aqueles que se encontram dentro de nós mesmos. Passamos anos e anos investindo no conhecimento do Universo, do Mundo, do Planeta, quando o nosso verdadeiro cosmo é inexplorado. Temos mania de grandeza, não conseguimos aceitar que às vezes as coisas são extremamente complexas, e em outras, tão simples..
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Faz umas semanas, fiquei insanamente feliz por ver que algumas pessoas à minha volta mudaram. Uma, em especial, que no meu passado foi de incomensurável importância. E o mais estranho - além de termos recuperado um pouco do contato perdido - foi notar que, no fundo, a mudança não foi somente dele - mas minha. Sou à favor de uma campanha mundial em que todos deixaremos de lado a Disney, a Paris, a New York, a Milão - e faremos um turismo interno, uma aventura dentro de nossos próprios sentimentos, sentidos, emoções. Descobrir o porquê afinal, de sermos tão únicos, tão inseparáveis e próximos - ao mesmo tempo tão distantes, isolados, carentes. Principalmente carentes. O que é o amor, senão uma necessidade de autoafirmação? Somos todos um só. Somos todos uma unidade, separadas pelo próprio amor, por essa coisa linda que a todo custo tentamos recuperar.
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Acho que as pessoas não sabem o que é amor. Para os adolescentes é encontrar alguém próximo, que desperta um pouco mais de interesse e diga palavras doces. Mas cadê a profundidade?
Acho que as pessoas pensam demais no sexo. Tanto no sexo-gênero quanto no sexo-ato. São julgadas por ele, por quem elas fazem e por que elas fazem, e com quem elas fazem. Acredito que já por um processo histórico e cultural, minha geração hipervaloriza um ato que apenas proporciona segundos de orgasmo e só. Vivemos em torno de uma coisa animalesca, natural e contraditoriamente taxada como tabu.
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Mas afinal, quem sou eu para dizer isso? Na minha opinião, o amor só pode ser considerado amor puro quando as pessoas desvinculam o sexo dele. E o desejo inconsciente de reprodução. Ou você reconhece que somos todos animais e gostamos disso (Sienna Miller já dizia), portanto assume que é movido por impulsos e desejo de reprodução e desvincula o amor, ou se enxerga como a evolução, que discerne o amor do sexo. Mas afinal, quem sou eu para dizer isso?
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Sinto-me novo, como se tivesse nascido de novo. Por estar recuperando elementos simbólicos de uma infância que já passou (amizades, por exemplo), sinto-me mais jovem do que nunca. Por estar lendo e interpretando coisas que nunca antes pude compreender, por estar agindo mais independente do que nunca e mais perto ainda de um final que representa o término de uma longa etapa, sinto-me mais homem do que nunca.
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Sinto-me grato. Mas não à Deus, estou numa fase de negação. Por que os homens não aceitam que vão morrer e acabou? Por que tem de haver anjos e Deus depois, um Purgatório (ainda que adore essa idéia), um Inferno, ou uma troca de corpos? Morreu, 'cabou. Se conforma, cara. Tem nenhum Céu depois não. Nenhum de nós merece. Olha à sua volta. I see poverty. De espírito, de moral, de corpo, de dinheiro.
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Por que as pessoas não olham mais para o interior das outras? O corpo murcha, fica com pelancas, pêlos onde não devia, rugas em lugares inimagináveis. Mas dentro? O interior é imortal!
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Voltei a me apaixonar pelas pessoas. Algumas, em especial. Um sorriso lindo dá vontade de chorar, os olhos nos prendem. O futuro nos espera, o passado nos prende, mas por quê? Vivamos o presente, e o que virá depois. Deveríamos todos nascer outra vez, tenho certeza que nasceríamos tão melhor..
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Um comentário:
que texto otimista, que feliz.
e apareteente contraditório com sua imagem na aula de hoje. achei-o bem introspectivo. mas, enfim, talvez não tenha conseguido observá-lo internamente.
sobre os finlandeses suicidas e favelados felizes, assisti a um filme hoje, na repescagem do festival, chamado "sobre o tempo e a cidade". belíssimo. numa das passagens mais interessantes ele pincelava uma frase de uma rainha inglesa, e não me recordo qual, que dizia: "o problema de ser pobre é que isso toma todo o seu tempo. o problema em ser rico é que isso toma todo o tempo dos outros".
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